Thanatos

A palavra vem de Thanatos, deus grego da morte, irmão do “Sono”. A expressão “logia” vem de logos, saber, estudo. Sendo assim, uma definição possível para a Tanatologia seria a de ciência que estuda as atitudes que o homem tem diante da morte e do morrer. Essa definição pode parecer estranha a princípio quando, olhando a nossa volta, imaginamos a expressão “atitude” como a ação que veríamos quando as pessoas sabem da morte e participam dos rituais fúnebres. É isso, mas também são muitas outras coisas. Atitude aqui implica também em “pensamento”, “subjetividade”, “arte”, “cultura”, “religião”, “literatura”, “comportamento”. Assim, a Tanatologia se interessa por todas as ações, atitudes e representações que o homem realiza quando elabora questões relacionadas à morte e o morrer. Convém destacar que, entre as muitas atitudes diante da morte e do morrer, o medo é sem dúvida a mais comum. Para o trabalhador de saúde esse é um aspecto muito importante, ajudando a entender porque, muitas vezes, é tão difícil manter uma comunicação saudável com um doente fora de possibilidades terapêuticas. Neste caso, o doente transforma-se simbolicamente no objeto de maior temor. O não preparo para lidar com a própria morte implica em relativa incapacidade para se lidar com a morte do outro. Vamos então discutir porque a morte seria tão amedrontadora O fato do homem ser o único animal que sabe que vai morrer provoca o que os filósofos existencialistas chamam de solidão extrema. Embora todas as pessoas morram, tanto a minha morte como a sua são eventos absolutamente pessoais. Ninguém pode viver a morte do outro. Além disso, a morte provoca as amputações afetivas. O preço que pagamos por permanecermos vivos é a convivência cotidiana com a morte e com estas amputações. Em parte, essa convivência se dá de forma abstrata, pois, na imensa maioria das vezes, quando presenciamos a morte, a vemos como um evento distante, jornalístico ou artístico. Quando ouvimos na TV que ocorreu mais um atentado no Oriente Médio, a probabilidade de conhecermos uma das vítimas é muito remota. Nos filmes, a morte é vivenciada no seu limite mais dramático e elaborado, conseqüência quase sempre de conflitos que oferecem dinamismo à estória. O problema real da morte é quando ela se apresenta como evento concreto, quando perdemos alguém próximo. Normalmente, diante deste fato, nós tendemos a expressar o luto emocionado. É deste sofrimento oriundo da morte que queremos a todo custo escapar já que não queremos enfrentar a perda de quem amamos. A morte também sinaliza às perdas das possibilidades. Significa dizer que, em algum momento, teremos uma atividade interrompida de forma inesperada. Durante a vida toda temos que, de forma gradual e outras repentina, abrir mão de coisas. Nossos corpos se desgastam, o envelhecimento produz a perda gradual de capacidades. Significa dizer que, a todo instante, a vida nos lembra que a morte se aproxima, quer gostemos ou não dessa idéia. Lembrar das perdas graduais significa ter que lembrar a perda definitiva de nós mesmos que a morte representa.  Antes o homem se achava preparado para o enfrentamento dessa questão básica. Hoje, com o fim das explicações gerais sobre a morte, ela deixou de ser um terreno exclusivo da religião transformando-se em mais um dos objetos da ciência. A ciência mesma é a grande fonte de nossas dúvidas e certezas, é ela que garante possibilidades de vida maior e mais segura. O problema é que ela não debelou aquilo que é considerado mal maior: a morte. Ora, é a ciência com seu complexo quadro de saberes que afirma a finitude como absoluta e, ao mesmo tempo, tenta nos instrumentalizar contra a morte a partir da noção de microorganismo, dos procedimentos higiênicos, das práticas de anestesia que revolucionaram a cirurgia, da farmacologia e seu arsenal cada vez mais eficiente de drogas “miraculosas”. Todo esse conhecimento criou a ilusão de que a morte pode ser detida indefinidamente, gerando aquilo que muitos estudiosos chamam de “fantasia de onipotência dos profissionais de saúde”. Essa onipotência é destruída diante da morte, pois os saberes falha na medida em que o moribundo sinaliza seus limites. Aqui nos defrontamos com outro motivo do afastamento das pessoas que estão morrendo. Em parte, queremos nos afastar não só porque elas representam a morte mas também porque elas ferem nossas vaidades ao negarem a eficiência absoluta do saber que utilizamos. A morte do meu próximo lembra inevitável, dolorosa e imediatamente a minha própria mortalidade.
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