A Música Chinesa e o Tai Chi
Toda música se
baseia em números e proporções. Por exemplo, existem doze notas na escala
cromática moderna, sete das quais são maiores e cinco menores. Princípios
matemáticos determinam as relações harmônicas entre elas. Por mais estranho que
possa parecer, quando nisso concentramos a atenção, não podemos deixar de
comentar que, para o músico ocidental comum, os números e relações da música
continuam sendo exatamente isso, e nada mais. Ele não lhes percebe nenhum
significado especial. E o que é ainda mais surpreendente: nem sequer o procura,
pois estando a sua consciência inteiramente presa ao mundo das aparências, realmente
não vê o mato por causa das árvores. Aprende na escola os rudimentos dos
números e das relações inerentes à música e, a partir desse momento, nem por um
instante pensa em perguntar: por quê? O espírito chinês antigo, no . entanto,
sempre se interessava mais pelas causas do mundo de efeitos exteriores do que
pelo próprio mundo. Supunha-se na China que a matemática da música englobava as
proporções e princípios sagrados, cósmicos, que governavam toda a Criação. E de
todos os números, o um e o dois eram os mais fundamentais. O número um era o
número da unidade e o número de Deus, o Grande Um. Notas individuais e
execuções individuais constituíam sempre representações de Deus. O número dois
representava a primeira diferenciação do Um nas polaridades opostas do yang e
do yin, ou do Tai chi. O conceito de duas forças equilibradas, interativas, é a
coluna vertebral de todo o sistema da antiga filosofia chinesa. Tudo no
universo, incluindo a música, consistia em distintas combinações das duas
forças fundamentais. Supunha-se que uma orquestra, por exemplo, mantinha um
equilíbrio igual entre o yang e o yin quando a metade dos executantes era
masculina e a outra metade feminina. Além disso, certos meses do ano eram yang
e outros yin; e entre os meses yang, por exemplo, alguns eram mais yang do que
os outros. Por isso mesmo, a música deveria ser executada cada mês num tom que
partilhasse do equilíbrio entre o yang e o yin daquele mês. Classificavam-se,
às vezes, as peças de música segundo fossem mais ou menos yang ou yin. Os
compassos iniciais da Quinta Sinfonia de Beethoven teriam sido classificados
como muito yang (masculinos, ativos e positivos), ao passo que a “Ave-Maria” de
Bach / Gounod como muito yin.
A Quinta de
Beethoven há de ser, seguramente (yang yang yin) Ou até (yang yang yang). Pois
assim se escreviam os diferentes equilíbrios entre yang e yin. O princípio do
yang era simbolizado por uma linha inteira, não-quebrada (yang) e yin por uma
linha quebrada (yin). De acordo com a concepção cósmica dos chineses, essas
duas forças opostas, combinando-se, davam origem à Trindade. E o conceito da
Trindade estava longe de ser vago e abstrato: ao invés disso, todos os
fenômenos e manifestações triplas do universo eram consideradas um aspecto do
Três-em-Um. Na música, a Trindade se manifestava onde quer que ocorressem e
sempre que ocorressem tercilhos, um ritmo em três, ou qualquer número de
executantes que fosse um múltiplo de três. Escrevendo as linhas quebradas e
inteiras para o yin e o yang em séries de três, os chineses conseguiam
representar na escrita o equilíbrio interior entre yin e yang que predominava
na natureza tripla de todos os fenômenos. Ao todo, há um total de oito sinais
possíveis, como (yin yang yin) e (yang yang yin). Supunha-se que esses oito
sinais (conhecidos como kua) simbolizavam as oito permutações e combinações
básicas da existência. Daí que o número oito também assumisse um significado
místico na música. Isso conduzia a outro modo com que os chineses buscavam
espelhar a ordem celeste no seu sistema musical. Em harmonia com o fato de
haver oito manifestações básicas das forças yang-yin no universo, agrupavam-se
os instrumentos musicais em oito classes. No Ocidente classificamos nossos
instrumentos de acordo com o método da produção do som (como, por exemplo,
instrumentos de percussão, instrumentos de cordas). Isso, porém, não acontecia
na China antiga, onde os instrumentos se agrupavam de acordo com o material de
que eram feitos. O que significava que cada categoria de instrumentos se tomava
automaticamente associada a ampla variedade de fenômenos extramusicais, visto
que tudo o mais no universo, à semelhança dos instrumentos, se associava também
a um dos oito kua básicos. Vemos que, através do seu kua comum, toda vez que
soava, o instrumento musical invocava automaticamente, por associação, o
espírito de determinada estação, de um elemento, de uma direção da bússola, e
assim por diante
Informações, Cursos, Palestras, Vivências, Atendimentos, Workshop: mmnaturopatia@gmail.com
Atendemos as regiões do Grande ABC
Comentários
Postar um comentário