Aromatologia
Em 1910 um homem
trabalha em seu laboratório na França fazendo uma destilação num balão de vidro
que explode queimando-o severamente. Este homem era o químico René-Maurice
Gattefossé. Mesmo se cuidando, Gattefossé contrai uma infecção grave nos
braços, ocasionada pela bactéria Clostridium perfringens, que se não tratada a
tempo pode ocasionar infecção generalizada levando à morte. Ele vai então a um
hospital sendo aconselhado pelo médico a enfaixar os braços queimados e a
aplicar sulfas (antibióticos). O quadro se agrava e o médico diz que se dentro
de poucos dias não houver melhoras, será necessária a amputação de seus braços.
Gattefossé vai para casa e resolve tomar uma iniciativa por conta própria, já
que os meios ortodoxos de tratamento não deram resultado. Ele tira as bandagens
dos braços e começa a aplicar óleo de lavanda pura, baseado-se em experiências
e estudos anteriores sobre o poder curativo dos óleos essenciais. De forma
espantosa no decorrer de uma semana a infecção regride e seus braços se cicatrizam
completamente sem deixar marcas: é um milagre!
Isso muda
drasticamente a vida de Gattefossé, levando-o a investir tempo e atenção ao
estudo conjunto com médicos sobre o poder curativo dos óleos essenciais. Em
1937, este seu trabalho culmina na publicação do 1º livro de aromaterapia do
mundo que causou uma “revolução aromática” em todo o planeta.
Após a 2º Guerra
mundial um grande número de cientistas na França, entre eles médicos e
farmacêuticos, iniciam um trabalho de pesquisa profunda que prova
definitivamente o poder que os óleos essenciais tinham na saúde e abre portas
para seu uso em hospitais como o “fitoterápico de mais alta eficiência e
concentração”.
Na década de 70,
quando a aromaterapia chega na Inglaterra, ela é levada como a “fonte da
juventude” para as esteticistas que começaram a aplicar e utilizar os óleos
essenciais como um meio de harmonizar as emoções, trazer bem-estar e beleza. A
idéia de uso via oral ou externo dos óleos essenciais para tratar doenças é
abandonado na Inglaterra e junto o estudo científico e farmacológico dos princípios
ativos das plantas. Nasce aí uma aromaterapia simplista, fácil de ser utilizada
e aplicada por leigos.
Diferente da
aromaterapia francesa, a inglesa não se ocupa de avaliar os quimiotipos das
plantas, de entender o que elas querem passar de fato em informações
bioquímicas pelo estudo de seus princípios ativos. Daí, o emprego de um
alecrim, só por ser alecrim, acaba ocasionando falhas em resultados, pois não
se atina a ver se o óleo em uso possui teores de cânfora suficientes para
estimular o sistema nervoso visando melhoras na concentração, de verbenona para
tratar do fígado ou de cineol para cuidar da área respiratória. Esta avaliação
é crucial para que a aromaterapia realmente funcione trazendo os resultados
esperados. Portanto não adianta só um óleo essencial ser natural, 100% puro e
até orgânico, é importante saber qual princípio ativo ele possui, descrito no
rótulo pelo quimiotipo. Pior é conceber o emprego de uma essência sintética no
lugar de um óleo natural, o que pode acarretar não só falta de resultados, mas
até intoxicações.
Surge neste
intercurso assim uma nova ciência, chamada de Aromatologia, ou o “estudo
científico dos óleos essenciais”. Esta ciência passa a se abrir para as
múltiplas possibilidades de uso que os óleos essenciais possam encontrar. Como
numa árvore, a aromaterapia é apenas um de seus braços focado ao estudo e
aplicação terapêutica dos óleos, havendo também a possibilidade de seu uso na
área da gastronomia, estética, psicologia e até no marketing.
Os empregos de
óleos essenciais como recurso terapêutico são os mais diversificados. Eles
funcionam bem como antibióticos naturais, cicatrizantes de feridas e
queimaduras, analgésicos no alívio de dores, como antiinflamatórios poderosos,
sedativos do sistema nervoso em casos de insônia ou hiperatividade, depressão e
ansiedade. A vantagem de seu uso neste aspecto vem exatamente do fato de
possuirem menores efeitos colaterais do que os medicamentos alopáticos e,
conforme o óleo, baixo custo. Por exemplo, uma pesquisa realizada na Inglaterra
com 8.058 mulheres grávidas mostrou que a utilização de óleos essenciais como a
lavanda, camomila romana e sálvia esclaréia através da inalação e massagem,
foram capazes de reduzir o uso de opióides anestésicos de 6% em 1990 para 0,4%
em 1997 nas mulheres durante o parto. A economia resultante desta prática é
enorme para o sistema de saúde público, além da redução dos riscos com a
aplicação de anestesia peridural.
O d-limoneno, um
componente encontrado no óleo das cascas do limão e da laranja, apresentou em
um número variado de estudos a capacidade de aumentar a síntese no corpo da
enzima glutationa, um dos mais importantes antioxidantes de nosso organismo.
Sabe-se que quando uma célula não é capaz de fabricar glutationa, ela não
consegue se livrar de radicais livres que são formados em seu interior, e com
isso esta célula pode ser destruída ou se transformar em câncer. Com
isto, óleos ricos em limoneno, geraniol, linalol e outros componentes capazes
de aumentar a fabricação de glutationa nas células, têm se apresentado como
drogas capazes de reduzir o avanço do câncer em fase inicial.
Além disso, parte
da capacidade regeneradora e rejuvenescedora que os óleos essenciais possuem e
que os faz serem utilizados em cosméticos, está associada a esta capacidade de
eliminar radicais livres, que são moléculas que podem acelerar o envelhecimento,
quando presentes na pele e no interior do corpo. Exemplos de óleos ricos neste
efeito são o gerânio, rosa, lavanda, pau rosa, limão, laranja, entre dezenas de
outros.
Em 1996 na
Alemanha, cientistas testaram o efeito comparado do óleo essencial de hortelã
pimenta (Mentha piperita) e do paracetamol no alívio de dores de cabeça. O
emprego do óleo puro ou diluído na área das têmporas e nuca se mostrou
extremamente eficaz no alívio das dores, ao ponto de poder ser empregado como
substituto ao paracetamol em dores de cabeça ocasionadas por tensão
nervosa.
Em 2006 no Brasil,
uma tese de mestrado provou que a oleoresina da copaíba (Copaifera reticulata),
empregada por mais de 2mil anos pelos índios da Amazônia no tratamento de uma
infinidade de doenças, é um poderoso antiinflamatório. Empregado na mesma dose que
o diclofenaco de sódio, a oleoresina de copaíba, rica em 90% de óleo essencial,
foi duas vezes mais forte na desinflamação que este medicamento. Além disso, em
outras estudos apresentou muito menos efeitos colaterais que o medicamento
alopático.
A grande
dificuldade do emprego de óleos essenciais na saúde é a falta de interesse da
indústria farmacêutica em investir capital na sua pesquisa, já que por serem um
recurso natural, não podem ser patenteados.
Existem atualmente
pesquisas mostrando grande eficácia do uso de óleos essenciais no tratamento de
piolho, sarna, candidíase, doenças de pele, desordens respiratórias, síndrome
do intestino irritado, etc. Em países desenvolvidos na Europa, como a França,
Bélgica e Alemanha, os óleos essenciais já são utilizados amplamente, não só
por terapêutas, mas por médicos, enfermeiras e psicólogos. No Brasil isto ainda
está começando a acontecer.
No campo da
cosmética, pesquisas realizadas pela empresa francesa Soliance, mostrou que o
óleo de mirra (Commiphra mukul) possui a capacidade de aumentar a concentração
de triglicérides na pele nas áreas onde existem fissuras. Ao prencher estas
fissuras, as rugas e pés de galinha tendem a desaparecer do rosto. Este efeito
costuma ser visto em menos de um mês de uso do óleo puro ou diluído.
Igualmente, estudos
realizados recentemente na faculdade Univali no Brasil confirmaram o emprego do
óleo de cipreste no tratamento do acne. O cipreste (Cupressus sempervirens) age
reduzindo a produção de oleosidade das glândulas sebáceas, desinflamando e
desinfectando a pele.
Na área da
gastronomia temos o emprego dos óleos dando sabor e enriquecendo pratos.
Igualmente eles entram como poderosos recursos nutracêuticos dentro da
alimentação funcional, ativando enzimas nos alimentos e trabalhando em conjunto
com vitaminas e minerais na recuperação da saúde. Um suco, por exemplo, de
abacaxi com uma gota de óleo essencial de hortelã pimenta une a ação
expectorante e de quebra do catarro proporcionada pelo mentol deste óleo e da enzima
bromelina do abacaxi, o que torna perfeita esta associação no tratamento de
bronquites e sinusites.
Os óleos essenciais
também afetam de forma especial a área emocional do cérebro, podendo ser
ferramentas úteis dentro da psicologia e psiquiatria no auxilio, conjuntamente
com os tratamentos tradicionais, na recuperação de pacientes com distúrbios
psíquicos.
Após absorvidos, os
óleos circulam pela corrente sanguínea de forma semelhante aos neuropeptídios
(moléculas de emoções produzidas pelo cérebro) e se encaixam em receptores
celulares, agindo como catalizadores de mudanças dentro do metabolismo das
células, representando uma influência externa sobre a rede de comunicação entre
os sistemas endócrino, nervoso e imunológico.
Um exemplo da ação
psicoaromaterapeutica pode ser visto com o óleo de camomila romana (Anthemis
nobilis). Seu aroma calmante, neutraliza a agressividade e a raiva, eliminando
mágoas no coração. Dissolve estados críticos e preconceituosos nas pessoas
trabalhando o perdão. Conecta com a energia angelical dentro de cada ser humano
despertando a alegria por viver, combatendo depressões mórbidas e a falta de
esperança por algo melhor. Além disso, é útil em insônia e ansiedade.
Com relação ao
marketing, o cheiro tem também um papel importante na avaliação de uma marca.
Primeiro porque é algo novo e, portanto, ajuda a marca a se destacar no meio da
multidão, conferindo algo que os outros não têm. No passado, algumas empresas
criaram seus próprios cheiros mesmo sem se dar conta. O estudo destes casos
trouxe luz a dados importantes com relação á eficácia do marketing olfativo.
Estudos na França associam aromas de cedro com a marca “Crayola”, fabricante de
lápis. No Brasil, lojas como Any Any utilizam logotipo aromático. Estes
exemplos ajudam a mostrar como um aroma comum a uma infinidade de produtos
similares automaticamente se torna logotipo aromático de uma grande marca na
mente do consumidor.
Empresas aéreas
também tem dado atenção para o uso dos cheiros. Criada na Inglaterra pela
aromaterapeuta Danièle Ryman, a combinação de óleos essenciais regulador
pós-vôo, elaborada para superar os efeitos das viagens aéreas, tem sido
encontrada nos hotéis e free-shops do Terminal Internacional do Aeroporto
Heathrow, em Londres. Hoje, duas companhias aéreas internacionais – Air New
Zeland e Virgin Atlantic Airways – estão fornecendo para seus passageiros de
primeira classe e para a classe executiva um “kit regulador pós-vôo”.
Trata-se de uma embalagem com 2 vidros de 5ml, um rotulado como “awake”-
acordar e outro ”asleep”- dormir, cada um contendo uma fórmula de óleos
essenciais desenvolvida por Daniele Ryman.
Com toda esta gama
de possibilidades, a aromatologia é uma ciência que a cada dia cresce mais chamando
a atenção de estudiosos de diferentes áreas.
Fonte: Artigo publicado na
revista Sathya
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