Moisés Bauer, professor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da
PUC-RS, vem estudando a relação entre estresse, sistema imune e envelhecimento.
Em trabalho publicado recentemente na Neurosci Lett, Bauer
investigou o efeito da acupuntura em variáveis psicológicas e na proliferação
linfocitária, em indivíduos adultos e idosos, ambos sadios. Os principais
resultados do trabalho foram: a acupuntura foi eficiente em diminuir o
estresse, tanto em adultos quando em idosos. Após as seis sessões de
acupuntura, os linfócitos T de idosos aumentaram significativamente sua
capacidade proliferativa, o que não foi observado com os linfócitos T de
adultos. Leia abaixo uma breve entrevista com Bauer.
1. O que
acontece com o nosso sistema imune quando envelhecemos? Existe uma
re-organização de quase todas as funções imunológicas ao longo do
envelhecimento, com impacto maior na imunidade adaptativa baseada em células T.
Muitas pessoas atribuem a imunossenescência com funções diminuídas e isso não é
verdade. Por exemplo, existe um aumento de citocinas pró-inflamatórias no
envelhecimento e acúmulo de células T de memória, com imunidade intacta aos
antígenos mais antigos durante a nossa vida.
2. O Sr
vem estudando estresse, sistema imune e envelhecimento. Quais têm sido suas
principais conclusões sobre o impacto do estresse em idosos? Qual é a fonte de
estresse em idosos? A principal conclusão é de que o estresse psicológico
acelera o processo de imunossenescência através do aumento de glicocorticóides
endógenos (cortisol) e diminuição de DHEA (dehidroepiandrosterona). A fonte de
estresse é variada e inclui a depressão associada a perda de parentes queridos
assim como a exclusão social. Talvez envelhecer seja ver o mundo gradualmente
mais em P&B. Temos um dever social de tentar atenuar este processo,
trazendo um pouco mais de cor aos idosos, principalmente aqueles com transtornos
afetivos.
3. Sobre
o trabalho publicado agora na Neuroscience Letters, quais são os
próximos passos?Vocês pretendem medir a secreção de neurotransmissores e
hormônios em resposta ao tratamento com acupuntura? Acho que isso seria uma
ideia interessante. Gostaríamos de avaliar os níveis de cortisol e adrenalina
após uma intervenção de acupuntura. Nossos dados são ainda preliminares, mas
apontam as próximas direções nesta área de pesquisa. Estudos duplo-cegos randomizados
são necessários.
4. O Sr
comenta no trabalho sobre possíveis mecanismos para explicar como a acupuntura
levaria ao aumento da proliferação de linfócitos, possivelmente levando a um
aumento da secreção de IL-2. Como aconteceria tal aumento de IL-2? Acredito
que esta regulação está associada a modulação de neurotransmissores e hormônios
induzidos pela acupuntura. Por exemplo, a acupuntura aumenta a secreção de
noradrenalina e serotonina, neurotransmissores implicados na patofisiologia da
depressão maior. A acupuntura estimula nervos sensoriais, produção de opióides
endógenos e sistema nervoso autônomo. Sabemos hoje que todas essas vias regulam
diretamente o sistema imune. Como verificamos um relaxamento muito importante
após as sessões de acupuntura, espero encontrar níveis mais reduzidos de
cortisol nestes sujeitos.
5. Os
céticos possivelmente perguntariam: o aumento da proliferação de linfócitos
observada após acunputura não poderia ser explicado por conta da agulha? E a
comparação (tanto imunológica quanto psicológica) de pessoas que não receberam
tratamento com acupuntura?
Neste
estudo não utilizamos um controle sham (p. ex. com agulhas na superfície da
pele) e essa dúvida permanece para ser esclarecida nos próximos estudos.
Contudo, saliento que a proliferação linfocitária dos idosos foi completamente
restaurada aos níveis observados nos jovens e isso é fantástico. Não conheço
nenhum estudo atribuindo um efeito psicológico a restauração completa da
imunidade das células T. Os nossos resultados sugerem que existe uma
plasticidade nas células T envelhecidas e possibilidades de regulação são uma
promessa real.
Fonte:
www.blogdasbi.blogspot.com.br
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